Construído na década de 1930, casa abrigou residência de governador de ex-território do Acre e foi espaço de atividades culturais e ponto de encontro de artistas e intelectuais
O Governo do Estado reuniu artistas, intelectuais e antigos frequentadores na noite desta sexta-feira, 10, para a reinauguração de O Casarão, que por último foi o bar e restaurante que se tornou um marco na história recente de Rio Branco e, por extensão, do Acre, mas abrigou a também a residência da família do Coronel Fontenele de Castro, ex-governador do Acre. A casa de Fontenele, agora revitalizada, foi entregue à comunidade pelo governador Binho Marques com uma festa que misturou emoção, nostalgia e confiança muito forte no futuro. Ressalte-se nesse contexto a função social dos ambientes - um bar, no caso - como elemento agregador das pessoas. "A função social do Casarão está aqui: são vocês, sem os quais seríamos pessoas dispersas", disse o governador.
A partir de agora, o Casarão é o mais novo espaço cultural da cidade de Rio Branco. No princípio, o espaço se constituiria em território da esquerda, mas acabou virando um caldeirão de correntes e idéias convergentes e divergentes - e todos saboreavam a vida dançando, comendo, bebendo, debatendo e promovendo a tolerância. Além de democrático era, por essência, de vanguarda. O espaço serviu de local de trabalho para muita gente produzir literatura, poesia e peças de teatro, tornando-se palco de inúmeras campanhas, exposições, propagandas diversas, reuniões de grupos de trabalho e muito mais. O Governo do Estado investiu R$ 834.805,36, sendo que R$256.583,50 são recursos do Governo Federal, obtidos através de emenda parlamentar proposta pela deputada Perpétua Almeida; R$ 75.672,19 do BNDES e R$ 502.549,67 do Tesouro Estadual.
Há muito de história e, por construção cultural, de acreanidade no prédio. Manoel Fontenele de Castro, primeiro morador do Casarão, comandou a Guarda Territorial e governou o Estado. Era um homem que, sobretudo, amava o Acre. De coração generoso, abriu a única piscina da região para uso quase público. Fontenele de Castro nasceu em 8 de junho de 1898, em Viçosa, no Ceará, sendo o terceiro homem de uma família de onze filhos do casal José Castro e Maria Fontenele de Castro. Saiu do Ceará fugindo da seca e embarcou no navio a lenha que o levou no rio Envira, em Feijó, para ser seringueiro, aos vinte anos, em 1918. Em Rio Branco ingressou na Polícia Militar do Território Federal do Acre. Graduou-se a postos maiores na graduação da milícia territorial, até comandá-la. Sua atuação na área civil estendeu-se aos cargos de delegado de Obras, delegado de Polícia, chefe de Polícia, secretário-geral do Governo, prefeito de Rio Branco. Governou o Território Federal do Acre interinamente por cinco vezes até ser nomeado governador titular pelo presidente Juscelino Kubitschek. Como governador, Fontenele de Castro ergueu prédios, abriu estradas, construiu pistas de pouso e fez portos, entre outras que o consolidaram como chefe político atuante de tal forma que, no Território e no Estado por cuja autonomia lutou ferrenhamente, deixou sua marca na história desta terra que adotou como sua.
Em outra fase do prédio, restaurante O Casarão recebeu esse nome da família que o alugou de Darci Fontenele, herdeiro do coronel, e foi o primeiro a servir comida regional e alimento natural no Acre. O espaço possui características arquitetônicas ecléticas, que mesclam diversos elementos de diferentes épocas, representando um estilo regional com influência européia. Agora, após um longo período de abandono, ele foi amplamente reformado pelo Governo do Estado do Acre, mantendo a maior parte de suas características arquitetônicas. Além disso, a parte superior do Casarão ganhou três novas salas, uma em homenagem ao jornalista cultural Chico Pop, outra de memória do próprio espaço, além de sala de multimeios e a terceira especialmente para exposição de artesanato.
O antigo e o moderno se encontram: Casarão tem acesso livre à internet
As intervenções para revitalizar o prédio foram as mais cuidadosas. "Utilizamos fotos antigas para garantir as características originais", disse o secretário de Obras Públicas, Eduardo Vieira. A área trabalhada é de 405,12 metros quadrados. Elementos de época foram mantidos mas os "puxadinhos", que não tinham relação com a planta original, foram removidos. Os serviços realizados foram a substituição das paredes em madeiras, preservando as da presente época; reforço estrutural nos pilares de época; substituição do forro; troca da estrutura de cobertura e telhamento; troca da pavimentação do térreo e superior em tábuas; troca de toda a instalação elétrica/lógica/ar condicionado/incêndio/hidrossanitária; criação de um estar com bancos e lixeiras; manutenção, no andar superior, das três salas originais; e ampliação em alvenaria que contemplou três pavimentos. O acesso principal tem rampa para portadores de necessidades especiais. Toda a área é hotspot, com acesso livre à internet através do programa Floresta Digital.
A partir de agora, o Casarão é o mais novo espaço cultural da cidade de Rio Branco. No princípio, o espaço se constituiria em território da esquerda, mas acabou virando um caldeirão de correntes e idéias convergentes e divergentes - e todos saboreavam a vida dançando, comendo, bebendo, debatendo e promovendo a tolerância. Além de democrático era, por essência, de vanguarda. O espaço serviu de local de trabalho para muita gente produzir literatura, poesia e peças de teatro, tornando-se palco de inúmeras campanhas, exposições, propagandas diversas, reuniões de grupos de trabalho e muito mais. O Governo do Estado investiu R$ 834.805,36, sendo que R$256.583,50 são recursos do Governo Federal, obtidos através de emenda parlamentar proposta pela deputada Perpétua Almeida; R$ 75.672,19 do BNDES e R$ 502.549,67 do Tesouro Estadual.
Há muito de história e, por construção cultural, de acreanidade no prédio. Manoel Fontenele de Castro, primeiro morador do Casarão, comandou a Guarda Territorial e governou o Estado. Era um homem que, sobretudo, amava o Acre. De coração generoso, abriu a única piscina da região para uso quase público. Fontenele de Castro nasceu em 8 de junho de 1898, em Viçosa, no Ceará, sendo o terceiro homem de uma família de onze filhos do casal José Castro e Maria Fontenele de Castro. Saiu do Ceará fugindo da seca e embarcou no navio a lenha que o levou no rio Envira, em Feijó, para ser seringueiro, aos vinte anos, em 1918. Em Rio Branco ingressou na Polícia Militar do Território Federal do Acre. Graduou-se a postos maiores na graduação da milícia territorial, até comandá-la. Sua atuação na área civil estendeu-se aos cargos de delegado de Obras, delegado de Polícia, chefe de Polícia, secretário-geral do Governo, prefeito de Rio Branco. Governou o Território Federal do Acre interinamente por cinco vezes até ser nomeado governador titular pelo presidente Juscelino Kubitschek. Como governador, Fontenele de Castro ergueu prédios, abriu estradas, construiu pistas de pouso e fez portos, entre outras que o consolidaram como chefe político atuante de tal forma que, no Território e no Estado por cuja autonomia lutou ferrenhamente, deixou sua marca na história desta terra que adotou como sua.
Em outra fase do prédio, restaurante O Casarão recebeu esse nome da família que o alugou de Darci Fontenele, herdeiro do coronel, e foi o primeiro a servir comida regional e alimento natural no Acre. O espaço possui características arquitetônicas ecléticas, que mesclam diversos elementos de diferentes épocas, representando um estilo regional com influência européia. Agora, após um longo período de abandono, ele foi amplamente reformado pelo Governo do Estado do Acre, mantendo a maior parte de suas características arquitetônicas. Além disso, a parte superior do Casarão ganhou três novas salas, uma em homenagem ao jornalista cultural Chico Pop, outra de memória do próprio espaço, além de sala de multimeios e a terceira especialmente para exposição de artesanato.
O antigo e o moderno se encontram: Casarão tem acesso livre à internet
As intervenções para revitalizar o prédio foram as mais cuidadosas. "Utilizamos fotos antigas para garantir as características originais", disse o secretário de Obras Públicas, Eduardo Vieira. A área trabalhada é de 405,12 metros quadrados. Elementos de época foram mantidos mas os "puxadinhos", que não tinham relação com a planta original, foram removidos. Os serviços realizados foram a substituição das paredes em madeiras, preservando as da presente época; reforço estrutural nos pilares de época; substituição do forro; troca da estrutura de cobertura e telhamento; troca da pavimentação do térreo e superior em tábuas; troca de toda a instalação elétrica/lógica/ar condicionado/incêndio/hidrossanitária; criação de um estar com bancos e lixeiras; manutenção, no andar superior, das três salas originais; e ampliação em alvenaria que contemplou três pavimentos. O acesso principal tem rampa para portadores de necessidades especiais. Toda a área é hotspot, com acesso livre à internet através do programa Floresta Digital.
O Território Livre: grande evento na sociedade
O Casarão foi construído na década de 1930 por Abdon Massari no Centro de Rio Branco. Apesar dos mais de oitenta anos, o prédio de madeira está conservado em sua parte central, mantendo características arquitetônicas sírias e libanesas, especialmente os lambrequins.
Como ponto de encontro, o Casarão recebeu pessoas de diferentes perfis - de intelectuais, boêmios, estudantes universitários a militantes partidários. A expressão 'território livre' apareceu na década de 1980, quando o local era restaurante. Por causa da grande diversidade de freqüentadores, a imprensa da época começou a chamar o espaço de Território Livre, onde se estabeleceram, segundo os pioneiros freqüentadores, pensamentos hoje frequentes no universo acreano. "O Casarão foi um grande evento na sociedade acreana, do qual eu tive o privilégio de fazer parte", disse dona Gracinha, que junto com o marido, Walter, tocou o restaurante por vários anos. "O Casarão não é um lugar qualquer. A gente tem de pedir licença para entrar", afirmou o ex-deputado Marcos Afonso, referindo-se ao valor do prédio. Entre intelectuais, políticos e ativistas sociais, estiveram presentes a conselheira do Tribunal de Contas do Estado, Naluh Gouveia, e o pai do jornalista e agitador cultural Chico Pop, Francisco Moisés. A escritora Francis Meyre, amiga de Chico Pop, recitou poemas em homenagem à revitalização do Casarão.
Um ambiente que abraça as pessoas
A revitalização partiu de uma demanda da sociedade. O Governo recebeu um abaixo-assinado com centenas de assinaturas com esse pleito. Há muita memória sobre o espaço. O músico Heloy de Castro fez ali o lançamento do primeiro CD, em evento que reuniu inclusive o roqueiro Lobão. Para Heloy, trata-se do resgate de um marco social, político e cultural do Acre. O escritor Silvio Margarido também participou da efervescência da época. "Que possa ser um espaço onde algo da nossa memória seja resgatado", observou Silvio. De seu lado, o jornalista e escritor Naylor George, o caldeirão intelectual e social vinha desde os primórdios do Casarão, quando ainda habitado pelos Fontenele. "Desde aquela época era ponto de encontro. As pessoas vinham para cá bater papo, comer tapioca, falar da vida alheia", relata Naylor. "Por aqui passaram pessoas de grande importância da música, cultura, boemia", completou. À noite, ambos foram citados pelos que fizeram uso da palavra, como o ex-governador e senador eleito Jorge Viana, em cujo mandato se deu início ao estudo para tombamento . "Aqui a gente alimenta alma. É tão bom entrar num ambiente que abraça a gente", disse Jorge Viana.
Temporariamente, uma empresa irá manter o café bar de O Casarão. O grupo Mapinguari Blues abriu a jam session que selou a entrega do Casarão ao povo do Acre.
História de encontros e desencontros
A casa de Fontenele abrigou a primeira piscina construída no Acre, onde se realizaram campeonatos de natação. A piscina foi aterrada décadas depois para dar lugar ao atual estacionamento. O prédio foi tombado pelo Conselho Estadual de Patrimônio Histórico e Cultural no dia 13 de agosto de 2009, por iniciativa da sociedade civil, sendo homologado no dia 30 de abril de 2010 pelo governador Binho Marques, através do decreto nº 5.235. Agora, está sendo devolvido à sociedade plenamente revitalizado pelo Governo do Acre e ficará sob proteção e vigilância do Poder Público Estadual, por intermédio do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour.
Os encontros no Casarão não eram para falar só de política como também para saborear pratos tipicamente acreanos ou dançar ao som de música ao vivo, o que acabou se constituindo em uma inovação nos restaurantes locais.
O Casarão foi construído na década de 1930 por Abdon Massari no Centro de Rio Branco. Apesar dos mais de oitenta anos, o prédio de madeira está conservado em sua parte central, mantendo características arquitetônicas sírias e libanesas, especialmente os lambrequins.
Como ponto de encontro, o Casarão recebeu pessoas de diferentes perfis - de intelectuais, boêmios, estudantes universitários a militantes partidários. A expressão 'território livre' apareceu na década de 1980, quando o local era restaurante. Por causa da grande diversidade de freqüentadores, a imprensa da época começou a chamar o espaço de Território Livre, onde se estabeleceram, segundo os pioneiros freqüentadores, pensamentos hoje frequentes no universo acreano. "O Casarão foi um grande evento na sociedade acreana, do qual eu tive o privilégio de fazer parte", disse dona Gracinha, que junto com o marido, Walter, tocou o restaurante por vários anos. "O Casarão não é um lugar qualquer. A gente tem de pedir licença para entrar", afirmou o ex-deputado Marcos Afonso, referindo-se ao valor do prédio. Entre intelectuais, políticos e ativistas sociais, estiveram presentes a conselheira do Tribunal de Contas do Estado, Naluh Gouveia, e o pai do jornalista e agitador cultural Chico Pop, Francisco Moisés. A escritora Francis Meyre, amiga de Chico Pop, recitou poemas em homenagem à revitalização do Casarão.
Um ambiente que abraça as pessoas
A revitalização partiu de uma demanda da sociedade. O Governo recebeu um abaixo-assinado com centenas de assinaturas com esse pleito. Há muita memória sobre o espaço. O músico Heloy de Castro fez ali o lançamento do primeiro CD, em evento que reuniu inclusive o roqueiro Lobão. Para Heloy, trata-se do resgate de um marco social, político e cultural do Acre. O escritor Silvio Margarido também participou da efervescência da época. "Que possa ser um espaço onde algo da nossa memória seja resgatado", observou Silvio. De seu lado, o jornalista e escritor Naylor George, o caldeirão intelectual e social vinha desde os primórdios do Casarão, quando ainda habitado pelos Fontenele. "Desde aquela época era ponto de encontro. As pessoas vinham para cá bater papo, comer tapioca, falar da vida alheia", relata Naylor. "Por aqui passaram pessoas de grande importância da música, cultura, boemia", completou. À noite, ambos foram citados pelos que fizeram uso da palavra, como o ex-governador e senador eleito Jorge Viana, em cujo mandato se deu início ao estudo para tombamento . "Aqui a gente alimenta alma. É tão bom entrar num ambiente que abraça a gente", disse Jorge Viana.
Temporariamente, uma empresa irá manter o café bar de O Casarão. O grupo Mapinguari Blues abriu a jam session que selou a entrega do Casarão ao povo do Acre.
História de encontros e desencontros
A casa de Fontenele abrigou a primeira piscina construída no Acre, onde se realizaram campeonatos de natação. A piscina foi aterrada décadas depois para dar lugar ao atual estacionamento. O prédio foi tombado pelo Conselho Estadual de Patrimônio Histórico e Cultural no dia 13 de agosto de 2009, por iniciativa da sociedade civil, sendo homologado no dia 30 de abril de 2010 pelo governador Binho Marques, através do decreto nº 5.235. Agora, está sendo devolvido à sociedade plenamente revitalizado pelo Governo do Acre e ficará sob proteção e vigilância do Poder Público Estadual, por intermédio do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour.
Os encontros no Casarão não eram para falar só de política como também para saborear pratos tipicamente acreanos ou dançar ao som de música ao vivo, o que acabou se constituindo em uma inovação nos restaurantes locais.
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