Despedida de Salete

Dia 21/11/2008 - 11:04 Todos estavam lá. Anézia, mãe venerada; Raimundo e Lurdinha, o juiz e a servidora pública, representando os sete irmãos; Luciano, o amado filho único; João, o namorado e companheiro; Fátima, a secretária particular e fiel escudeira; Cosmo, o amigo procurador de Justiça; Sanderson, o parceiro do júri popular, advogado admirado e estimado; Colegas e admiradores; Gente do povo; Gente da política; conterrâneos e até ex-desafetos.Só mesmo a Salete Maia para reunir no mesmo recinto personagens dos mais diversos setores da sociedade acreana. Assim foi o funeral da ´Dama de Ferro´, iniciado com o velório na sede do Ministério Público Estadual, na quinta-feira, e encerrado nesta sexta-feira, dia 21, com o sepultamento, no cemitério Morada da Paz.A cerimônia que marcou o último adeus a Salete Maia foi marcada por muitas honras. O comandante da Polícia Militar, coronel Romário Célio, comandou pessoalmente a salva de tiros, iniciada coma chegada do cortejo.O ex-governador Jorge Viana (PT), o advogado criminalista Sanderson Moura, o procurador de Justiça, Cosmo Lima, o filho Luciano e o companheiro João conduziram o caixão com o corpo de Salete Maia até o local exato do sepultamento.Discursos emocionados precederam à descida do corpo a cova. Salete Maia não era uma operadora do Direito. Salete Maia era uma personagem do Direito, dado o seu alto grau de conhecimento e dedicação´, disse o presidente da OAB-Acre, Florindo Poersh.Jorge Viana colocou de lado a política e falou de amizade, admitindo, inclusive, que em dados momentos da sua trajetória política e profissional, Salete pagou por fazer o certo. ´Salete era uma mulher para grandes desafios. Ela conquistou não só o meu respeito, mas a minha admiração e amizade´, declarou.A influência da convivência de Salete Maia com Cosmo Lima (durante sua passagem pelo MPE) e Sanderson Moura (nos últimos anos de vida) não passou despercebida em seus discursos. ´Quando eu cheguei ao MPE não tinha muito exemplo de atuação independente. A Salete mudou isso, me desculpe a sinceridade, desabafou Cosmo.Sanderson ressaltou que aprendeu com Salete que quando há honestidade não existe diferença entre a atuação do advogado e do promotor. ´A Salete vivia me dizendo que o advogado e o promotor são iguais. Eu não entendia isso, mas a partir da convivência com ela, entendi que o advogado honesto e o promotor honesto lutam pela justiça´, destacou.Uma história de luta e coragemMaria de Salete da Costa Maia era natural de Tarauacá. Oriunda de família numerosa, dez irmãos, atualmente reduzidos a sete. Era uma mulher brilhante, irrequieta, tinha sede de justiça. Mas era, antes, um ser humano de valor inestimável. ´Ela era passional. Chorava com os clientes quando perdia uma causa e comemorava quando ganhava´, lembra Sanderson Moura.Viveu com intensidade os 56 anos (completados dia 6 de junho) passados nesta terra e enfrentou com Altivez o tumor maligno que ocasionou a sua prematura partida.´Doutora eu vou ficar boa!´. Segundo a secretária e fiel escudeira, Fátima Costa, assim reagiu Salete Maia ao ser informada pela médica, em São Paulo, em dezembro de 2007, que desenvolvida um câncer de pâncreas. E foi assim, com coragem e determinação que Salete Maia se manteve até os últimos dias vida.Segundo Fátima, a primeira providência de Salete ao saber da doença foi transferir o escritório para dentro da própria casa. ´Ela não parou de trabalhar um só segundo. Nem quando foi para o hospital, ela usava o telefone para saber a situação dos processos em andamento´, revela.O último contato com Salete foi na segunda-feira, dia 17. ´Ela me ligou, estava preocupada e queria saber se eu estava pagando as contas direitinho. Na terça, quando eu fui visitá-la, ela já estava na UTI´, conta em lágrimas. Também foi através do telefone a última conversa que Salete manteve com Sanderson Moura. ´Ela foi obrigada a desligar porque a respiração faltava´, disse entristecido.Doença maldita e de difícil tratamentoO câncer de pâncreas que matou Salete Maia é a quinta causa de morte por tumor maligno no mundo. Como sucede com a maioria de tumores malignos, os sintomas não aparecem até que o tumor cresce o suficiente para alterar as funções dos órgãos próximos. Infelizmente foi assim com a Salete Maia. Quando as fortes dores abdominais começaram a se manifestar e a pele ficar amarelada, já era tarde demais. Em onze meses depois estaria acabado no plano material, restando o reconhecimento ao trabalho desta mulher corajosa e destemida. ´Obrigado por existir na minha vida e por ter me ensinado tanto´, finalizou Sanderson Moura.