Morte de caçador deixa 36 crianças órfãs na Resex Chico Mendes.


Crianças passam a se alimentar de farinha; duas delas são cegas.
Num tempo em que as informações correm o planeta à velocidade de bits por segundo, quando as pessoas têm acesso a praticamente tudo, com apenas um clique de botão, No Acre ainda existem locais onde muitas ainda vivem como nos tempos da colonização, sofrendo de extremas limitações e de árduas condições de vida.

Um desses episódios foi constatado por nossa reportagem, entre o último domingo (10), e a segunda-feira, (11), quando policiais militares do Pelotão Florestal e uma equipe do Instituto Médico Legal - IML, foram acionados para localizar o corpo de um homem de 31 anos, assassinado a golpes de terçado por outro de 70, no meio da floresta.

O cenário do crime: a Reserva Extrativista Chico Mendes, também conhecida por Resex Chico Mendes, uma imensa área de terra localizada em Rio Branco e em terras de Xapuri (130 quilômetros de Rio Branco), destinada a conservação ambiental e lar de pequenos agricultores que vivem da extração da castanha, da caça e da pesca primitiva.

A vítima é o agricultor Marcílio Barbosa de Oliveira, 31 anos, que era o único provedor de duas famílias com oito adultos e pelo menos 36 crianças. Cinco delas eram filhos biológicos dele e dois, deficientes visuais de nascença.

O acusado é Raimundo Alves de Azevedo, o Raimundo Macaco, 70 anos, suspeito de assassinar Marcílio de forma bárbara, após uma discussão com outro personagem de nossa reportagem: Nildo Alves de Azevedo, o Bebé, 30 anos, filho de Raimundo Macaco.

O drama que passamos a narrar aqui começa bem longe do cenário do crime: no município de Tarauacá (a cerca de 300 quilômetros de Rio Branco), quando a família de Marcílio, impulsionada pela miséria que assolava a região, resolveu se mudar para a Capital acreana, aonde chegou a morar por dois anos na periferia da cidade.

Na cidade sem emprego e assolados pela fome, conseguiram fugir para uma área de dois hectares dentro da Resex.

Ali, estavam vivendo basicamente da caça, já que a colocação onde moram está distante 1h30 de caminhada, desde a margem do único ramal da região: o Ramal do Carlinhos. O ramal é extremamente longe das margens do Riozinho do Rola, o único manancial da Resex Chico Mendes.

A reportagem do Escosdanoticia participou do resgate ao corpo da vítima. A nossa aventura começa às 23 horas de domingo, quando agentes da Polícia Técnica -- uma divisão da Polícia Civil -- e homens do Pelotão Florestal -- da Polícia Militar do Acre -- se deslocam para a região da Transacreana, após a notícia de um crime com requintes de extrema barbárie.

No quilômetro 10, entramos no Ramal do Riozinho para então pegar o Ramal do Carlinhos.

Deste último ramal até o barracão onde a família órfã reside, caminhamos mais 1h30.

Ao chegarmos a casa onde vivia a vítima, logo observamos a situação de penúria daqueles que esperavam o retorno de Marcílio com vida, com uma grande paca ou outro bicho.

Logo da porta, observamos crianças amontoadas por todos os lados. Contamos exatamente 36, em várias faixas etárias. De recém-nascidos á 15 anos.

Ao perguntamos o que eles vão comer, a resposta é imediata: "nada. Hoje não teremos nada, ao não ser este pouco de farinha", responde uma mulher de rosto sofrido, voz acanhada e corpo raquítico, cujos ossos são salientados pela pele riscada com rugas de uma vida miserável.

Maria e outros sete adultos parecem padecer muito mais do drama de não ter o que oferecer a suas crianças, do que do próprio crime que vitimou Marcílio. É que neste local, os limiares entre a fome e a morte, entre o sofrimento e a desesperança parecem muito próximos, quase inseparáveis.

"Temos farinha. Não podemos oferecer a vocês mais do que isso aqui", torna a se lamentar a mulher, mas nem por isso indisposta a não compartilhar com a gente a pouca farinha que ela tem.

O sentimento de alguns integrantes de nossa caravana é de completa indignação, sobretudo, porque sabemos que dali em diante as coisas ficarão ainda mais difíceis, com a morte do caçador da família.

A esperança da inocência
Mesmo diante do relato da mãe, aos filhos informando que o pai havia sido assassinado, as crianças (filhos da vítima), em seu mais alto grau de inocência somada à esperança de matar a fome, preferiam não acreditar e afirmavam "Meu pai não morreu. Ele vai voltar trazendo nossa comida" afirmavam.

Pés descalços, por que sapato é luxo naquela região, mesmo sem entender muita coisa, a fragilidade de seus corpos denunciavam que não podia ter acontecido o pior com o pai, pois certamente para elas (as crianças) seria o inicio do fim.
Abuso e violência sexual são cada vez mais freqüentes em Cruzeiro do Sul.


Uma criança de 11 anos que já vinha sofrendo abusos em uma comunidade rural está grávida e vai receber atendimento, em uma casa de apoio do Projeto Vida Nova, mantido pela Petrobras. Outra vítima de abuso sexual foi identificada em um bairro periférico da cidade, uma adolescente de 13 anos, está grávida de gêmeos e também vai receber ajuda por determinação do Juizado da Infância e da Juventude.

Em 2008, 656 crimes contra crianças e adolescentes foram registrados em Cruzeiro do Sul, conforme dados do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Entre 2008 e 2007 quase quatrocentos casos de abuso e exploração sexual contra menores chegaram ao conhecimento das autoridades. Para a presidente do Conselho, Milca dos Santos, as pessoas estão mais conscientes e fazem um maior número de denúncias dando, condições para as instituições de proteção atuar tanto punindo os criminosos, como protegendo as vítimas.

O projeto Vida Nova, mantido pela Petrobras, atende vítimas de abuso e exploração sexual. Numa casa estilo colonial com amplo espaço, as 17 meninas hoje internadas, recebem ajuda médica, psicológica, cursos profissionalizantes e terapia ocupacional, como corte, costura, pintura e crochê. Pelo menos três delas estão grávidas, outra, com 16 anos de idade cuida da filha de 11 meses que nasceu dentro da casa. "Aqui ela é o xodó de todos. Estou feliz, quando sair daqui estarei pronta para viver e sustentar minha filha", comenta a adolescente.

As vítimas de abuso sexual são levadas todos os dias à escola. Já as que sofrem exploração, no momento não podem estudar. Segundo a coordenadora do Projeto, Monalyza de Oliveira Santos, essas meninas exploradas não têm consciência da gravidade do problema e acabam aceitando a ação dos exploradores.

Segundo o conselheiro tutelar, Adson Almeida, a maioria dos abusos é cometida por pessoas que tem convivência ou são parentes das vítimas. Grande parte dos casos é registrada na zona rural.

Segundo a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, a realização de palestras em escolas tem contribuído para que muitos casos venham à tona. Após ouvirem os conselhos e os apelos dos palestrantes várias menores procuraram as autoridades para denunciar o que vem sofrendo.