Se as pesquisas eleitorais se confirmarem, no próximo dia 4 de abril a população da capital de Pando, na Bolívia, poderá eleger Ana Lúcia Reis alcaldeza de Cobija. O cargo que equivale ao de prefeito será ocupada por uma mulher que tem dupla nacionalidade, brasileira e boliviana. Outro fator interessante é que poderá ser a terceira prefeitura na região fronteiriça do Alto Acre a ser comandada por uma mulher. Leila Galvão (PT) dirige Brasiléia e, Eliane Gadelha (PT), Assis Brasil.
A candidata, apoiada pelo presidente boliviano Evo Morales, nasceu em Porvenir, na província de Pando, mas é filha do brasileiro, José Constantino dos Reis Filho. Por isso, a dupla nacionalidade. Ana Lúcia traz a política na sua genética. O seu avô, José Cons-tantino dos Reis, era um português anarquista que fugiu do regime salazarista nos anos 30. Veio para o Brasil, entrou em choque com a polícia política do Estado Novo de Getúlio Vargas, nos anos 40, e, mais uma vez teve que fugir. Acabou se refugiando em terras bolivianas fronteiriças com o Acre.
Ana que é proprietária do hotel mais conhecido dos acreanos em Cobija, o Açaí, já foi representante da região no Congresso Nacional da Bolívia, por duas vezes, como deputada. Ela afirmou que ao invés de tentar uma reeleição foi convocada para a missão de assumir os destinos de Cobija. Uma eleição que poderá significar mais um passo importante na propalada integração acreana com os países vizinhos. “Fui presidente do Parlamento Amazônico e pude desenvolver uma boa relação com parlamentares e o governo brasileiro. Principalmente com o Acre e o Amazonas. Só fato de ser brasileira e ter essa conexão com o Brasil vai nos ajudar bastante para intercambiar alguns tipos de conhecimentos e projetos que virão de lá para cá. O que nós queremos é aproveitar o desenvolvimento do Brasil em diferentes áreas como a produção sustentável do Acre”, avisou.
Com 60% das intenções de votos, Ana Lúcia, transformou parte do Hotel Açaí num comitê de campanha para vencer os seus adversários Miguel Santalucia e Janeth Lopes. Desde o amanhecer até à noite, representantes de bairros, de movimentos sociais e políticos pandinos se reúnem com a candidata para traçarem os rumos do futuro de Cobija. “Tenho o apoio de 47 dos 53 bairros e dos principais representantes do movimento so-cial”, salientou.
Durante a entrevista Ana já avisa que utilizará o modelo de desenvolvimento de Rio Branco para fazer as transformações na Capital Pandina. “Vamos nos preocupar mais com a questão do meio am-biente. Se eleita quero fazer uma avenida costaneira, às margens do Rio Acre, com ciclovias, arborização, jardinagem para ser um ponto turístico da cidade. Da mesma maneira que a Prefeitura de Rio Branco fez a revitalização da região da Gameleira”, prometeu. Outro projeto de campanha da candidata inspirado em Rio Branco é o aproveitamento de uma área no centro de Cobija de 12 hectares para fazer um parque similar ao Chico Mendes. “Antes a cidade estava abandonada. O Governo do Acre e a prefeitura conseguiram transformar essa realidade de Rio Branco e quero fazer a mesma coisa por aqui”, disse ela.
A ex-deputada conta para isso com a promessa de ajuda de Evo Morales, que já esteve pelo menos cinco vezes no seu palanque durante a campanha, de intensificar ainda mais os investimentos na Capital de Pando. “O nosso presidente está muito comprometido com toda a região amazônica boliviana.
Inclusive, já temos o projeto que prevê o asfaltamento da estrada que vai unir Cobija a La Paz”, afirmou. Tais investimentos na infra-estrutura pandina refletem uma preocupação do governo de La Paz por se tratar de uma região politicamente delicada para o presidente boliviano que ainda enfrenta a influência do ex-governador Leopoldo Fernandes, preso na Capital Boliviana depois de conflitos, em 2008, na região. Pando foi uma das poucas províncias onde Evo não conseguiu vitória para a sua reeleição. Perdeu por uma diferença de 3%. “Mas consideramos uma vitória porque subimos de 19% para 45% nas últimas eleições,” comemorou Ana.
No entanto, Ana admite que o ex-governador encarcerado ainda tem uma forte influência na província. “O Leopoldo ainda tem muito prestígio por ser um líder. Mas a diferença é que ele não está em Pando. Acho que durante o governo dele nunca incentivaram o surgimento de novos líderes. Agora, se ampliou a possibilidade com gente nova. Muitas pessoas que eram ligadas ao Leopoldo viram que são necessárias novas propostas, novos candidatos e abertura para os jovens, por isso, mudaram de lado. De todos os problemas que vivemos, em 2008, ainda fica uma dor para os dois lados, mas estamos mais tranqüilos. A população quer trabalhar e viver bem”, garantiu.
Fonte: A Gazeta