Prostitutas comemoram seu dia sem glamour


Para muitos pode até ter passado despercebido, mas a profissão mais antiga do mundo, apesar do preconceito, comemorou seu dia em 2 de junho que, oficialmente, é o Dia Internacional das Profissionais do Sexo. No Acre, as mulheres e travestis que exercem a profissão não tiveram muitos motivos para comemorar. A maioria nem sabia da existência da data. Um dos pontos para a não comemoração é o elevado preconceito que a sociedade ainda possui com a classe e o desinteresse de muitos em fortalecer a associação. Porém, não é barreira para impedir o serviço, muito menos o horário para desempenhá-lo.

Hoje, esses profissionais não esperam mais anoitecer para se expor nas esquinas em trajes extravagantes. Em alguns lugares, às 18h30, o movimento já tem iniciado em várias esquinas da capital. Os pontos mais conhecidos são: a esquina do Cemitério São João Batista, rua Rio Grande do Sul, e ao longo da Via Chico Mendes, no Segundo Distrito da cidade.

Na Avenida Chico Mendes, a equipe de reportagem de A TRIBUNA encontrou a menor Adriana (nome fictício), de 17 anos. Há oito meses, ela vende o corpo por R$ 50, e isso inclui tudo, ou seja, sexo liberado. O valor é até considerado alto se for comparado ao de outras garotas que ficam na rua que cobram R$ 20. A renda, segundo Adriana, não é para ajudar nas despesas de casa, pois não passa necessidade, mas pelo fato de não se satisfazer com apenas um homem.

O programa é escondido da família. Ela mora com dois irmãos e a mãe, o pai é falecido. A adolescente diz ter abandonado os estudos quando chegou no 1º ano do Ensino Médio, mas garante retomá-los em 2011.

“Todos os dias eu venho pra rua. Os homens casados são os que mais me procuram. Algumas vezes aparece homem rico, outras vezes, pobre. O valor para todos é igual. Não fico a noite toda, faço uns três programas por noite. Não tenho outra atividade além dessa”, disse Adriana.

Ela garante ainda realizar exames médicos periodicamente nos postos de saúde e que pratica sexo seguro. “Só faço com preservativo. Se o cliente pedir para não usar, eu não faço. Meus exames eu procuro por conta própria”, garante Adriana se referindo às garotas de bordel que são submissas às cafetinas.

Associação dos travestis do Acre

Na primeira quinzena de junho vai ser fundada Associação de Travestis do Acre a (Atrac), que conta com o apoio do governo do Estado, por meio da Secretaria de Direitos Humanos. Até hoje os travestis não têm os mesmos direitos que as prostitutas, porque esse é um direito exclusivo do sexo feminino. É preciso ter inicialmente o reconhecimento da identidade de gênero feminino das travestis, para que elas possam usufruir dos seus direitos profissionais.

Jussara Freire (nome fictício) é uma das travestis mais antigas do Acre. Ela trabalha na rua há 13 anos, decidiu fazer isso porque precisa e também porque gosta. Ela conta que nunca pensou em trabalhar em casas de show particulares, pois acredita ganhar mais nas ruas. “Tenho clientes ricos, que chegam a pagar de R$ 100 a R$ 150, por um serviço completo, tem noites que faço até dez programas”, afirma Jussara. Ela diz se prevenir sempre na hora do programa, revela que alguns clientes pedem para não fazer uso do preservativo, o que ela não consente.

Luiza Faial (nome fictício) tem 21 anos e faz programa há 6 anos. Ela estudou até o segundo ano do segundo grau, e conta que começou a fazer esse trabalho por brincadeira e gostou, e diz ainda não ligar para o preconceito, mas confessa não sair às ruas travestida durante o dia. Luiza conta que seu programa custa no mínimo R$ 30, mas dependendo do modelo do carro do cliente, o preço aumenta.“Faço programa há três anos, procurei essa vida por esporte, ninguém me convidou, durante o dia sou babá, ando travestida sempre”, afirma a travesti Marcela (nome fictício).

A LGBT tem hoje 346 membros no Acre, e apenas quatro deles desempenham essa profissão, afirma o presidente da associação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), Germano Marino. “Nós não apoiamos nem a maior e nem a menor idade para a prática da prostituição de travestis, mas temos uma preocupação especial com os menores de idade, pois a noite é uma coisa muito perigosa”, diz Germano.

A associação faz um trabalho para que os associados sejam inseridos em políticas públicas e geração de renda, pois é muito difícil inseri-los no mercado de trabalho. Ser profissional do sexo é o único meio de vida que essas pessoas encontram.

Preço em prostíbulos é tabelado em R$ 150

Rio Branco já possuiu grandes casas para a prostituição entre as décadas de 50 e 60. O Porta Larga, que funcionou no bairro Seis de Agosto; Porta Aberta, na AC-40; Chalé da Anália, no Dom Giocondo (na época o Papoco); Taboquinha, no Bosque; Tabira, na Estação Experimental e Boa Água, na Floresta, foram espaços inesquecíveis para o prazer dos homens. Esses espaços foram acabando com o surgimento dos motéis.

Embora muitas garotas se prostituam pelas ruas, não chega a ser concorrência para as que vivem nos poucos bordéis existentes na capital. Estefany (nome fictício) tem 19 anos e trabalha há um ano em uma das casas do prazer, situada na Rodovia AC-40, em Rio Branco. Conheceu o local após receber o convite de uma amiga. Também alega que a procura pela profissão não foi por necessidade, mas porque gosta.

Ela chegou a terminar o Ensino Médio, pensa em ingressar na faculdade e sair dessa situação, mas quer completar dois anos no local. Duas horas com Estefany custam R$ 150. Por noite, a garota atende três clientes.

“As meninas que ficam na rua não representam concorrência pra gente, pois quem vem aqui só é homem do dinheiro, pessoas com condições de pagar o valor que pedimos”, ressaltou garantindo que todo o recurso é pra si, ou seja, não divide com o dono do estabelecimento.

Patrícia (nome fictício), de 19 anos, é prima de Estefany. Veio de Feijó para trabalhar na casa por convite da prima e permanece lá há oito meses. Patrícia diz que o único critério para fazer parte do grupo é ter acima de 18 anos. Duas horas com ela também custam R$ 150. O serviço é completo.

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