Proposta do governo não agrada e educação decide manter greve




Os servidores da educação estadual decidiram manter a greve que hoje chega ao seu 26º dia. A última proposta do governo não agradou e até irritou os servidores, que a viram como uma tentativa de “divisionismo” da categoria: o governo só aceita repor as perdas inflacionárias de 2010, ignorando as de 2009 e 2008, mas se dispôs a corrigir um erro de reclassificação salarial ocorrido em 1999 – há 11 anos.
No primeiro ano do primeiro mandato de Jorge Viana, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) prolongou de 3 para 7 anos o tempo mínimo de serviço necessário para a progressão de letras. Como a cada letra corresponde um nível salarial, o reenquadramento deixou a ver navios diversos servidores à beira a progressão. Todos tiveram que recomeçar “do zero”, prejudicando precisamente os mais antigos, com mais tempo de serviço.
“Com a correção dessa injustiça o governo atendeu a uma reivindicação histórica da categoria, mas o cerne do problema não é esse. O cerne do problema é o poder de compra dos trabalhadores, que está prejudicado perante o custo de vida atualmente. Isso compromete a educação, sim, e não vamos aceitar estratégias para esvaziar a discussão e tentar culpabilizar a categoria enquanto o governo faz pose para a mídia”, reclama a presidente do Sindicato dos Professores Licenciados do Acre (Sinplac), Alcilene Gurgel.
A proposta do governo foi inteligente. A correção do “recomeço das letras” em 1999 beneficiaria somente os servidores que entraram antes do reenquadramento, criando uma divisão na categoria e encerrando a greve. Para realizar esta correção, o governo daria aos servidores prejudicados, em outubro desse ano, o direito à famosa “puladinha” – uma progressão para a próxima letra.Mas a proposta não passou e até uniu ainda mais os servidores, que chegaram a vaiar alguns companheiros que levantaram a mão para sinalizar a possibilidade de negociar o fim da greve nesses termos. Agora, a greve continua.
Sinplac aguarda deputados
Diante do acirramento da greve, o Sinplac e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac) aguardam o resultado de uma reunião que um grupo de deputados estaduais deve marcar com o governador Binho Marques para tratar especificamente dessa questão.A idéia da Assembléia Legislativa do Acre (Aleac) intermediar as discussões entre os sindicatos e o governo surgiu na ocupação sindical da própria Aleac, na quinta-feira da semana passada. Ainda não há data para a audiência, mas os parlamentares asseguraram que pretendem levar todas as questões ao governador.
Professor ganha o básico para sobreviver
Para continuar vivo e conquistar o direito de trabalhar no dia seguinte, um professor acreano gasta por mês R$ 2.006. O problema é que no início de carreira – os primeiros sete anos - esse profissional ganha R$ 1.675,79.Por essas contas, um professor só começa a ter condições básicas de sobrevivência ao chegar na letra C, ou seja, depois de 21 anos de serviço, quando começar a receber R$ 2.010 no holerite.
Em Rio Branco, alugar um apartamento com dois quartos não sai por menos de 500 reais. Energia elétrica fica a 150 reais. Gastos com alimentação, higiene pessoal e limpeza doméstica somam 216 reais, ao passo que a conta do Saerb fica em torno de 80 e 100 reais.
Some-se a ainda 200 reais de gasolina de um carro 1.0, mais 200 para vestuário e o mesmo para calçados, 300 reais de livros, internet a 80 reais, gás de cozinha a 40 reais e 20 reais para um cartão de celular, dá exatos R$ 2.006.
“Isso é o cálculo de um professor que não tem direito a um plano de saúde, uma viagem de férias, um lazer no fim de semana, uma festa com os amigos, nada disso. Esse cálculo é de uma pessoa que vive para trabalhar, não trabalha para viver. E mostra claramente que o glorioso ganho que o professor tem hoje não cobre sequer a manutenção da sua própria existência, que dirá esse salário maravilhoso que algumas pessoas dizem por aí”, reclama a professora Alcilene Gurgel, presidente do Sinplac, que realizou a pesquisa.
Os números referem-se aos gastos de um indivíduo sozinho. Casados ou pais solteiros têm as despesas dobradas, e, dependendo do caso, triplicadas e até mais. Se o cônjuge trabalhar a receita aumenta, mas as despesas também.

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