Funcionárias de lotérica explicam como bolão deixou de ser registrado no RS


Os números comprados pelos clientes não foram registrados. O dono da lotérica apresentou imagens para alegar que a funcionária Diane da Silva, de 21 anos, esqueceu de passar o jogo na máquina. A colega dela, Fátima Schons, que também aparece na cena contou ao Fantástico o que aconteceu na noite de sábado (20).

“Confirmei os números e fiquei em uma alegria planejando rapidamente. Eu já sabia o que ia fazer com o dinheiro”, Roberto Dias. “Eu fui dormir milionário e acordei pobre”, lamenta o porteiro Paulo César Amaral.Esses são alguns dos gaúchos que apostaram no concurso 1.155 da Mega-Sena. O prêmio era de R$ 53 milhões. Todos compraram um bolão vendido em uma lotérica em Novo Hamburgo, há 35 quilômetros de Porto Alegre. “O sonho durou mais ou menos uma hora”, diz o corretor de seguros Roberto Dias Hoffman. “Eu ia pegar meus cartões e gastar o que não tinha. Eu já estava dando o carro para o vizinho”, conta o vendedor Luiz Fernando Brunes. “Ela me ligou falando que a haviam ganhado o prêmio no bolão. Eu falei que não. A Mega-Sena havia acumulado em R$ 61 milhões. Aí, ela se deparou com alguma coisa de errado. Quando a gente entrou na lotérica, ela viu que havia se esquecido de passar o bolão”, disse Fátima Schons. Ao todo, três bolões com 120 cotas não tiveram os números autenticados por essa lotérica. A funcionária que prestou depoimento na quinta-feira (25) saiu da delegacia sem dar uma palavra com a imprensa. A funcionária disse que ficou sabendo do sorteio porque o pai dela tinha uma cota do bolão. Mas, no depoimento, contou que o comprovante sumiu. Diane falou também que os números dos bolões só eram registrados depois que todas as cotas eram vendidas.


Investigação
O delegado que investiga o caso, Clóvis Nei da Silva, não está completamente convencido que toda essa confusão não passou de um simples erro da funcionária. A polícia vai agora fazer um levantamento de outros bolões vendidos pela mesma lotérica e checar com a Caixa Econômica Federal se foram ou não registrados. “A gente trabalha com a hipótese de estelionato, porque as vítimas foram até a essa lotérica. Foi oferecido um bolão, e elas tinham a consciência que esse jogo havia sido feito. E como não houve o jogo, elas foram iludidas”, diz o delegado. “Estão me acusando de estelionatário, isso não existe. Estou me sentindo envergonhado, lesado. Na verdade, eu sou uma das vítimas”, diz o dono da lotérica, José Paulo Abend. Depois da confusão no Rio Grande do Sul, a Caixa Econômica Federal afirmou que considera ilegal a venda dos bolões. “O bolão é uma prática popular, mas a Caixa Econômica Federal não reconhece. Para a Caixa, o bolão não existe. O que existe é o comprovante emitido pelo terminal”, explica Antônio Carlos Barasuol.


Caixa não aprova bolão
Um documento a que o Fantástico teve acesso mostra que, em 21 de janeiro, a lotérica já tinha sido notificada pela Caixa justamente por causa da venda de bolões. Um ofício igual foi envidado a todas as lotéricas do Brasil. O texto diz que não é permitida a venda ou divulgar qualquer outra modalidade de sorteio ou loteria e assim os bolões podem comprometer a lotérica.

O ofício foi assinado pelo dono, mas comprovantes de bolões mostram que a venda continuou normalmente na Esquina da Sorte. O advogado da lotérica, Marcelo de la Torres, reconhece a ilegalidade da aposta, mas diz que, como a Caixa não fiscaliza com frequência, esse tipo de jogo continua.

Tanto que o dono se sentia à vontade para participar do bolão. “Eu podia estar milionário também. A Caixa não se responsabiliza por bolão. É difícil se responsabilizar por R$ 52 milhões”, diz José Paulo Abend.


Outro caso
Caso semelhante aconteceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Em 1999, cinco clientes compraram um bolão que foi sorteado, mas não registrado. O prêmio: R$ 16 milhões. O apostador Maurício Mariano entrou na Justiça e ganhou em primeira instância. A Caixa recorreu, e o processo está sendo julgado. A lotérica foi fechada. “Se a lotérica cometeu um erro, entendemos que o erro se estende à Caixa Econômica Federal também”, diz Maurício.

No Rio Grande do Sul, os apostadores também vão entrar na Justiça para tentar receber os R$ 53 milhões. A maioria continua fazendo planos de como gastar todo esse dinheiro. É o caso do taxista Jadir Quadros, que sempre jogou na Mega-Sena na tentativa de mudar de vida. “Comprar de coisas de luxo nada. Seriam duas casa, porque a família ainda não tem onde morar, e mais uma placa de táxi para mim, porque hoje eu trabalho de empregado”, planeja.

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