Costureira revela drama após perder filho durante briga de médicos em MS


Tanta alegria e tanto cuidado acabaram em desilusão. Quando entrou em trabalho de parto, Gislaine de Matos foi levada para uma sala, a que o Fantástico teve acesso, em Ivinhema (MS). O médico dela, Orozimbo de Oliveira, acompanhava a gestante. As imagens caseiras mostram uma mãe feliz, comemorando os oito meses de gravidez. “Todo mês eu estava no meu pré-natal. Fiz um cursinho de três meses”, conta. "Ele me examinou, fez o toque para ver se eu tinha dilatação. A enfermeira já tinha feito uma aplicação de limpagem em mim e visto se estava tudo certo", lembra Gislaine. Um outro médico, Sinomar Ricardo, chefe do plantão, achou errado que o parto fosse feito por Orozimbo, que não estava no plantão, e pediu ao obstetra que parasse de atender Gislaine. "Eu só vi quando o doutor Sinomar fechou a porta e entrou. Quando ele fechou a porta, eu vi que a porta abriu de uma vez. Daí, ele já entrou de pontapé e empurrão", descreve Gislaine. De acordo com a paciente e com enfermeiros, os médicos se agrediram fisicamente até serem separados pela equipe de segurança do hospital. "Eu comecei gritar, pedia pelo amor de Deus. Estava com dor”, diz Gislaine. Outro cirurgião foi chamado para continuar o parto. "Eu fiz uma avaliação. Ela se encontrava muito nervosa, muito estressada, transtornada. Examinei e percebi que ainda havia batimentos, mas que estavam indicado a necessidade de se fazer uma cesariana", diz o médico Humberto Ferraz. A cesariana foi feita, mas a criança não resistiu. Gislaine se lembra do silêncio na sala de parto e da conversa que teve com uma enfermeira.
Investigação
Depois da morte do bebê, os dois médicos foram demitidos. O Conselho Regional de Medicina vai apurar se houve falha no atendimento. A polícia também vai investigar o caso, e um inquérito já foi aberto. "Trata-se de um crime na modalidade de aborto doloso, eventual, quando o resultado final é a morte do feto, embora os médicos não quisessem. Parecem não ter se importado que aquela briga, aquela situação, poderia levar o feto a óbito", avalia o delegado Lupérsio Degeroni. "Aquela situação" é a inaceitável briga entre os dois médicos. Desde a morte da filha de Gislaine, eles trocam acusações técnicas. Um acusa o outro de erro no procedimento do parto. "Eu sou ginecologista obstetra e não entendi por que o doutor Orozimbo queria ativar um trabalho de parto que estava correndo tão bem", diz o médico Sinomar Ricardo.


Na sala de parto
E o delegado espera que o exame da placenta da mãe defina se a causa da morte da filha foi o medicamento. Mas o que chamou a atenção do país foi a briga. Quem começou? "Se eu estou dentro da sala de parto, para fazer um parto, um cidadão mete o pé, abre a porta à força e agride o médico que lá dentro está, é fácil saber quem começou a briga", diz Sinomar Ricardo, de 68 anos.

O médico confirma que impediu que Orozimbo fizesse o parto, mas diz que foi atacado pelo colega de trabalho. "A papeleta voou das minhas mãos e caiu. Eu fui pegar a papeleta e recebi uma saraivada de murros", disse Sinomar. Orozimbo Oliveira, de 49 anos, afirma que defendia o direito de a família escolher o médico. "Eu coloquei a mão na cabeça e disse que somos civilizados. Ninguém pode ser proibido de trabalhar em um hospital sendo médico."

Gislaine e Gilberto voltaram para casa sem a filha. "Naquele momento, eu achei que faltou a base que falta hoje na sociedade. Faltou companheirismo, união, tolerância. Eu falei para eles que estavam lidando com vida. Disse que eles fizeram juramento para salvar vidas, não para tirar vidas", lembra Gilberto.

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