A Vila Santa Luzia surgiu a partir do projeto de assentamento dirigido Santa Luzia, implantado em Cruzeiro do Sul, no início da década de 1980. Foi uma história de muitas dificuldades devido ao isolamento, que fez com que muitos moradores da região se tornassem vítimas da malária. O tempo passou, a população cresceu, chegoaram a rodovia asfaltada (hoje em recuperação), a energia elétrica, mais presença pública com educação e saúde, mas a população da região quer mais: quer a emancipação política.
A vontade já vem de longe, mas nos últimos tempos ganhou força. Sentindo-se abandonados pela prefeitura de Cruzeiro do Sul, os moradores querem um município só seu. Por iniciativa popular, há alguns meses surgiu uma “comissão de emancipação” formada por 15 membros dispostos a aglutinar forças locais e políticas no sentido de alcançar a independência. Neste domingo ocorreu uma grande manifestação, num dos mais importantes atos até agora da comissão. Mais de mil pessoas compareceram à antiga sede do Incra e embrião da futura sede municipal do novo município de Santa Luzia, sob a sombra generosa das mangueiras e dos jambeiros, deixados ali como herança.
Convidados pelo movimento, compareceram ao ato o vice-governador Cesar Messias, o senador Tião Viana, o deputado Gladson Cameli, a deputada estadual Perpétua de Sá, além de vereadores da região e lideranças comunitárias, inclusive indígenas da etnia Katuquina, cuja terra está compreendida dentro dos limites do município e que também têm interesse na independência.
O senador Tião Viana, que vem acompanhando a questão desde que assumiu o primeiro mandato, em 1999, fez uma exposição de como está a tramitação da matéria no Congresso, a partir da proibição em 1996 para a formação de novos municípios, até a atualidade. O senador disse que os problemas atualmente vividos pela comunidade de Santa Luzia serão superados com a organização da futura cidade. “Estamos de mãos dadas, com um contrato moral pela defesa do povo de Santa Luzia e que só vai se desfazer no dia em que Santa Luzia virar município de verdade”, afirmou.
O vice-governador Cesar Messias lembrou que em 1992, quando era deputado estadual, o governo do Estado criou de uma só vez 10 municípios, três deles no Vale do Juruá. Ele lembrou que Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Rodrigues Alves são hoje municípios consolidados, mas na época tinham bem menos condições de se tornar municípios do que o Santa Luzia de hoje. Segundo o vice-governador, Santa Luzia já vai nascer com o porte do município de Mâncio Lima e que o governador Binho Marques garantiu apoio à reivindicação da população local e vai participar ativamente da montagem da infraestrutura administrativa necessária ao novo município
Geograficamente, o município de Santa Luzia deverá abranger a região desde o rio Croa até o rio Liberdade, incluindo importantes comunidades como da Vila Alagoinhas. Na área foram implantados quatro projetos de assentamento que hoje abrigam cerca 1,5 mil famílias; o maior deles é o próprio Santa Luzia, com 900 famílias. Na região existem 41 escolas, cinco postos de saúde, um mini-hospital, 250 quilômetros de ramais abertos e outros 200 quilômetros para abrir. Ainda existem agricultores que andam duas horas com a produção agrícola nas costas.
A região é um grande celeiro de produção agrícola e o principal abastecedor de Cruzeiro do Sul, enviando ainda sua produção para Feijó e Tarauacá, especialmente farinha, frutas e carne bovina. Com a emancipação, o novo município poderá ter extensão territorial maior que Cruzeiro do Sul e ser o segundo mais populoso da região.
Apesar dos postos de saúde existentes, o presidente da comissão pela emancipação, professor Nildison Costa de Moura, classifica a situação da saúde básica e no município de “vergonhosa”. “Estamos esquecidos pela prefeitura municipal de Cruzeiro do Sul”, bradou. Durante a manifestação no domingo, a comissão espalhou um folheto com palavras de ordem como “cansei!”, “não queremos mais ser o quintal de Cruzeiro do Sul”, entre outras.
Ativo participante da comissão, o jovem Gleison Rogério Cruz é filho de família tradicional da região. Ele conta que os pais chegaram ao Santa Luzia quando ainda só existia uma picada. Para ele, a organização de atos públicos dentro da lei foi a forma encontrada para demonstrar o desejo de emancipação. Segundo ele, a participação do senador Tião Viana é essencial, pois “ele faz o link direto com o presidente” comentou, bem humorado.O agricultor José Hermelindo Andrade, acompanhado da mulher Francisca e do filho Odenilsonm veio prestar solidariedade ao movimento. “Passando a município, tudo vai melhorar, vamos ter vida própria”, declarou.
O ancião Luis Torres de Abreu, 84, foi um dos primeiros a chegar à região em 1982. Junto com a filha Marinete, que mora no ramal Para Rurais, veio dar o apoio ao movimento. Marinete comentou: “Nossa população é grande, mas não consegue eleger um parlamentar para que seja nosso representante, seja vereador ou deputado. Por isso queremos um município, para que nós possamos decidir o que queremos”.
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