Dez mil participam de enterro de Eloá; dois passam mal e são atendidos


Eloá Cristina Pimentel, 15, que foi baleada na cabeça após ficar cem horas rendida pelo ex- namorado em Santo André, na Grande SP





Cerca de dez mil pessoas acompanharam o enterro de Eloá Cristina Pimentel,15, na manhã desta terça-feira em Santo André (Grande São Paulo). Duas pessoas ficaram emocionalmente abaladas e foram atendidas pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
Eloá foi morta com um tiro na cabeça após ser mantida refém por cem horas pelo ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves, 22.
Multidão acompanha enterro do corpo da menina Eloá Cristina Pimentel, 15, em Santo André, na Grande São Paulo
O corpo da adolescente foi enterrado por volta da 9h10. Durante o trajeto do caixão da sala onde ocorria o velório até o jazigo de número 520 do cemitério Jardim Santo André, muitas pessoas bateram palmas.
Um dos negociadores do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), da Polícia Militar, participou do velório. Ele estava em um carro descaracterizado e acompanhou a mãe da jovem, Ana Cristina, na saída. Os irmãos da jovem saíram em um carro da Guarda Municipal. Ninguém quis falar após a cerimônia. Aldo, o pai, não compareceu pois é hipertenso e permanecia em atendimento médico no momento do enterro da filha.


Irmão e mãe de Eloá se abraçam durante o enterro do corpo da menina, em Santo André
Entre os presentes ao velório estava Massataka Otapai do menino Ives Ota --seqüestrado e morto em 1997. Ele considerou a decisão da família de doar os órgãos "heróica". "Eloá salvou muitas vidas", disse.
Um dos garotos que estava no apartamento no momento que Lindemberg invadiu o imóvel foi amparado por amigos. Eles vestiam uma camiseta branca com a foto da garota, sorrindo.


Emoção
Desde o seu início, na tarde de segunda, o velório de Eloá reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo estimativas fornecidas pela administração do cemitério e por guardas municipais.
No final da noite de ontem, Ana Cristina, mãe da garota, decidiu dar uma declaração aos jornalistas e pessoas presentes ao velório da filha. E disse que perdoa o ex-namorado da filha, mas que quer justiça. "Eu consigo perdoar o Lindemberg. Eu consigo perdoá-lo de todo o coração, mas que a justiça seja feita", afirmou Ana. "A Eloá está feliz em um lugar melhor", disse.
A mãe isentou o Gate de qualquer espécie de culpa pelo trágico desfecho e agradeceu a população que foi ao velório da filha.

A declaração foi dada em frente ao caixão. Um grupo que a acompanhava a cerimônia vestindo camisetas brancas com a imagem de Eloá sorrindo, chorou. Foi a primeira manifestação pública da mãe desde que a filha foi feita refém. Cristina pediu para que os presentes não chorassem, pois Eloá não gostaria de vê-los tristes.
Na manhã de hoje, a mãe foi consolada pelo filho mais velho no enterro. Os dois permaneceram abraçados durante a cerimônia. Ana Cristina jogou flores no caixão da filha.
Doação
O jazigo de número 520 do cemitério Jardim Santo André foi doado pela administração do local. Segundo um dos sócios do empreendimento, Altimar Augusto Fernandes, 44, a decisão de fornecer o jazigo partiu dos próprios diretores. "Acho que não há uma pessoa no Brasil que não esteja comovida", disse.
Segundo ele, os diretores acompanharam o desenrolar do caso e, segundo ele, compreenderam as dificuldades da família. "Sabemos do transtorno que todos passam nessa hora e ninguém está suficientemente preparado", afirmou Fernandes.
O jazigo custa cerca de R$ 6.000, tem manutenção semestral de R$ 180 mas os familiares não desembolsarão sequer um centavo, segundo a administração do cemitério. A doação é perpétua e foi feita à família da jovem, ou seja; outros integrantes da família poderão ser enterrados no espaço.
Fundado em 1982, o local já comercializou cerca de 5.000 jazigos. Desde então, aproximadamente 8.000 pessoas já foram enterradas no local.

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